O caminho para a liderança de si
Criando uma nova realidade

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“A jornada do herói é a jornada de qualquer um de nós que escolhe buscar seu próprio destino” Campbell.

Talvez você, assim como eu, já tenha passado por momentos na vida nos quais se deparou com insatisfações suas em relação à vida pessoal ou profissional. É interessante perceber que em alguns destes momentos simplesmente sabemos que algo não está bom, mas não sabemos exatamente o que queremos ao invés daquilo.

Em outras vezes podemos até perceber a existência de determinados padrões que vem se repetindo ao longo da nossa história ou da história da empresa em que atuamos, mas não temos ideia do que fazer para mudar.
É como se, neste momento, estivéssemos no meio de uma neblina bem espessa, como que hipnotizados pelo problema e com uma grande dificuldade de encontrar uma saída, uma solução que leve a uma nova realidade, bem mais próxima do que queremos. Esta dinâmica, inclusive, é muito comum e podemos observá-la em inúmeros casos de clientes que vem até nós com questões profissionais, organizacionais e/ou de vida.

A insatisfação, em si, faz parte da natureza humana e é tão natural quanto respirar. No caso da respiração, aliás, sabemos que ela possui vários papéis na manutenção de nossa vida e saúde física, emocional e muito mais. E qual seria o papel da insatisfação na nossa vida? Creio que sem ela e sem a nossa curiosidade, nossa busca por novidade e aventura, provavelmente moraríamos em cavernas até hoje! Convido você a vê-la como um gatilho para crescimento e transformação, capaz de nos dar um primeiro impulso para irmos além dos limites instituídos.

E que limites são estes? Quando investigamos um pouco estes limites, que muitas vezes nos afastam da realidade que queremos, podemos descobrir que eles vêm de diversas fontes, tanto internas quanto externas a nós. Alguns deles associamos a ambientes que frequentamos, a sistemas e a grupos aos quais pertencemos agora ou já fizemos parte no passado.

Algo como: “Lá na minha equipe ninguém pode dizer o que pensa” ou “Ninguém na minha família se dá bem em falar inglês” ou ainda “Para as pessoas que vem de onde vim tudo é muito difícil”. Outros podem vir de nossos próprios hábitos de pensamento, de sentimento ou comportamento, ou seja, nossa forma de ver e agir (ou reagir!) no mundo.
Neste caso temos exemplos como:
“Toda vez que eu busco uma promoção algo me sabota” ou “Acho que não fui feito para me relacionar bem com os outros” ou ainda “O mundo é muito perigoso”.

“O mundo que criamos é produto de nossa forma de pensar.” Einstein
O mais incrível disto tudo é que o que chamamos de realidade, na verdade é a nossa percepção parcial moldada por nossa história, experiências e estratégias de sobrevivência. Sem contar o vasto conjunto de impressões do mundo, não só nossas, mas do passado relacionado ao contexto em que ela se apresenta, como o passado dos nossos ancestrais, das pessoas que já atuaram na empresa etc. Nos ocupamos, de uma forma inconsciente, a reagir às situações e às pessoas que se relacionam conosco a partir deste arsenal interno de pré-disposições e pré-conceitos. É como se o que acontecesse fora somente acionasse em nós botões de experiências registradas dentro de nós e o que acontecesse a partir daí fosse somente nossa reação a estas experiências e não simplesmente uma resposta à realidade em si, ao que acontece diante de nós.

E onde entra liderança nisto tudo? E, avançando um pouco mais, qual seria nossa responsabilidade por nossa ações e pela realidade que vemos e vivemos? Até onde vai nossa responsabilidade tanto na nossa vida quanto no que está a nossa volta?
“A liderança existe quando as pessoas não são mais vítimas das circunstâncias, mas participantes na criação de novas circunstâncias. Quando operam no domínio da liderança generativa”. Joseph Jaworski

Diferentes histórias de vida, em todos os tempos, nos mostram que para nos tornarmos líderes de nós mesmos e de outros ao nosso redor é crucial sairmos da posição de vítima e assumirmos o protagonismo. Veja Martin Luther King, Madre Tereza de Calcutá e muitos outros grandes líderes da nossa história.

Ser protagonista significa agir ao invés de reagir, se abrir para novas maneiras de ver a realidade, assumir a direção do seu “próprio barco com suas próprias mãos”, tomar para si a responsabilidade de sua própria história e usar o conhecimento adquirido e recursos disponíveis para identificar o que pode ser feito no aqui e no agora. Como protagonistas podemos ser generativos (criativos e criadores) não só da nossa história, mas também, extrapolando o individual, podemos pensar no que nós, coletivamente, somos capazes de criar.

“Nada irá mudar no futuro sem maneiras fundamentalmente novas de pensar. Esse é o verdadeiro trabalho da liderança.” Peter Senge Expandimos enormemente nossa percepção quando nos abrimos para enxergar que o mundo é muito mais que um conjunto de coisas. Vemos que vivemos num mundo de possibilidades, que não há um futuro pré-determinado e sim um movimento de criação contínua. Ele é feito de relacionamentos! Tudo se relaciona o tempo todo e a realidade é fruto do resultado destas relações. Basta estar atento para notar que isto ocorre tanto no micro quanto no macro. Tomemos a seguir alguns exemplos e hipóteses de resultados destas relações sistêmicas:

1. Quando observamos um ser humano – “um sistema Ser Humano”. O que pode acontecer com o corpo dele quando ele está muito triste? Talvez cansaço e falta de disposição física para seguir a vida. Qual seria um possível efeito nos seus pensamentos e sentimentos quando ele está com alguma doença física. Talvez desânimo e desespero. Neste caso notamos a relação entre órgãos, sentimentos e pensamentos.

2. Quando observamos as pessoas que fazem parte de uma gerência de vendas em uma empresa – “um sistema Gerência de Vendas”. Qual seria um possível efeito nesta equipe se um dos seus membros fosse demitido de forma desonrosa? Talvez um dos seus membros sentisse raiva ou tristeza ou ainda vontade de também sair da equipe ou da empresa. Por outro lado, o que poderia ser o efeito neste time caso um de seus membros não assumisse suas responsabilidades e com isso sobrecarregasse os outros. Talvez geraria uma revolta com o líder, ou ainda queda na performance ou até doenças no grupo. Neste caso notamos a relação entre membros da equipe e o líder/empresa.

3. Quando observamos uma família – “um sistema Família”. Pense em algumas possibilidades do que poderia ocorrer se o pai delegasse para o seu filho mais velho a responsabilidade pelas decisões referentes aos seus irmãos ou ainda se o filho decidisse por conta própria assumir o lugar do pai. Talvez para filho mais velho sentisse um peso para seguir e seus irmãos mais novos sentissem revolta com o irmão mais velho e poderiam acreditar ter sido abandonados pelo pai. Neste caso notamos a relação entre pai, irmão mais velho e irmãos mais novos.

4. Quando observamos um cliente – “um sistema organizacional”. Qual seria uma possível reação do cliente caso o produto que vinha adquirindo há anos como suplemento alimentar e que gosta muito (e inclusive recomendou para amigos), fosse descontinuado pela empresa e simplesmente substituído por outro totalmente diferente. Talvez ele se revoltasse com a empresa e trocasse de fornecedor. Neste caso notamos a relação entre cliente, produto e empresa.

5. Quando observamos um colaborador – novamente “um sistema organizacional”. Um funcionário que atuava numa empresa comercializando veículos para entretenimento e viagens e que considera valor “contribuir para um mundo melhor”. Que efeito imagina que possa ter neste funcionário a sua mudança de atuação para vender estes mesmos veículos para uso em guerras. Talvez falte ânimo para trabalhar e haja uma sensação de estar deslocado do seu lugar. Neste caso notamos a relação entre funcionário, missão/tarefa e área/empresa.

Todos estes exemplos mostram algumas das infinitas possibilidades de resultado de relacionamentos e de impactos nas ações, reações e escolhas individuais. Uma vez que comecemos a enxergar a realidade como ela é, percebemos que nada é permanente. Desta forma, ao invés de nos resignarmos, começamos a aceitar a nós e aos outros, como um todo em si e parte de outro todo maior que se desdobra continuamente.

Aprendemos com as experiências e passamos a fazer novas escolhas de forma a influenciar ao redor, liderando de qualquer cadeira. Creio que quando se tem esta visão, é quase que impossível não se comprometer.
E onde você está nesta jornada? Eu te convido a dar mais um passo na criação de uma nova realidade. Eu não sei qual passo é o melhor para você e nem o tamanho dele, mas você, se assim o quiser, com certeza o encontrará!

“Qualquer coisa que você possa fazer ou sonhe poder fazer, comece. A ousadia possui gênio, poder e magia em seu interior.” Goethe.
Texto por Cláudia Cruz.